sábado, 16 de julho de 2011

Sorteio do Livro "Asgard - A Saga dos Nove Reinos

Em comemoração de um ano de Batalhas & Barganhas (http://medievalor.blogspot.com/), o autor do blog e a Jambô Editora estão sorteando um exemplar do livro "Asgard - A Saga dos Nove Reinos" (http://www.jamboeditora.com.br/produtos/lit-asnr.htm) que será entregue ao vencedor sem nenhum custo.


Link da promoção: http://bit.ly/oFy1uZ


Boa sorte para todos e que os ancestrais sejam honrados!!!

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Fragrância

- Quero informações.

- E para que mais as pessoas procuram videntes?

Estávamos numa tenda feita de cortinas e tecidos que variavam entre o vermelho, vinho e púrpura. O interior tinha uma iluminação fraca de velas, apenas o suficiente para se enxergar. Na mesa, uma adaga, um baralho, pedras, conchas e uma esfera de cristal. O aroma de incensos doces dava um clima especial para adivinhações, típico de farsantes. Rosa era a vidente que haviam me recomendado - diziam que era uma excelente guia espiritual e que muitos nobres se consultavam com ela às escondidas.

- E então, o que deseja saber? – ela perguntou.

- Desejo que você se prove uma adivinha legítima, antes de mais nada.

Rosa sorriu com seus lábios estreitos e finos, quase sempre em um bico natural. Ajeitou o cabelo negro, pôs o véu roxo transparente um pouco para o lado, para não tampar a visão e esticou suas mãos magras em cima da mesa.

- Deixe-me ler suas palmas.

Sem alterar minha expressão, tirei minhas manoplas e estendi meus braços. Ela me estudou como uma acadêmica, mudando de expressão como quem via muita lógica no que fazia.

- Sente falta do seu pai, não é? – ela me encarou com seus olhos negros, certa de sua pergunta, sorrindo com um canto dos lábios.

- Eu não conheci meu pai.

- Sim, mas amou um homem como se fosse o tal e está sentindo falta dele.

Não respondi.

- De acordo com a sua mão, neste exato momento da sua vida, você está buscando aceitar algo relacionado a ele. O que é? Acha que o decepcionou? Ele te pediu algo antes de morrer? Deixou algo inacabado que você queira finalizar?

- Ele foi assassinado, quero vingá-lo.

- Ah! Faz todo sentido – ela riu, entretida. - Você sabe que o seu irmão vai acabar se envolvendo na sua jornada, mas que ela é sua, não é?

- Eu não tenho irmão.

- Mas gosta de alguém como um.

Apertei meus olhos, encarando-a.

- Você não me convenceu.

Ela se recostou em sua cadeira.

- Se eu falar apenas a verdade, você não vai acreditar ou vai acreditar demais e fará alguma besteira. Sua mão diz o seu caminho, mas ele é seu e só seu. Você vai perguntar para onde deve seguir, mas ninguém vai saber responder. Está parado num ponto, pode seguir para qualquer direção e cabe somente a você criar a trilha certa. Pelo o que eu vejo, ninguém nunca trilhou o caminho que sua mão indica.

Eu comecei a perder a paciência.

- Quero saber onde se encontra o assassino de meu mestre para matá-lo.

- Sim, ir atrás de um homem e assassiná-lo, exatamente como a sua futura vítima fez.

- Não me compare a ele! – eu quase gritei.

- Não estou comparando, estou te dizendo o que eu li.

- Você não adivinhou nada! Apenas deduziu! – berrei.

- Você está pensando que está falando com quem? Com alguma meretriz? – ela respondeu demonstrando uma autoridade digna e surpreendente.

Rangi os dentes querendo responder, mas ela tinha razão.

- Seu mestre lhe ensinou a gritar com mulheres também?

- Não. Me desculpe, não tive a intenção – falei, murchando os ombros e esfregando o rosto com as mãos, exausto.

A expressão de Rosa se desfez em preocupação, como se estivesse triste por ver um amigo em decadência.

- Você não pode ficar obcecado ou jogará fora os ensinamentos do seu pai e se tornará um assassino, como o homem que o matou – suas sobrancelhas se arquearam e o canto da sua bochecha se contraiu.

- Apenas me diga onde ele está, eu cuido do resto.

Ela deixou o ar escapar, como quem vê algo incorrigível.

- Você vai encontrar o assassino quando estiver pronto para vencê-lo. Se tentar encurtar o percurso, o pior acontecerá.

- Então, para onde devo ir?

Ela me encarou, mantendo a expressão de preocupação. Pegou um baralho, misturou as cartas e depositou o bolo em cima da mesa.

- Corta.

- O que?

- Corta.

- Como assim?

- As cartas.

- Cortá-las?

- É.

- Com a minha espada?

- Não! Divida o bolo em dois!

- Bolo?

- Você está zombando? Pega o bolo de cartas e dividi em dois, só isso.

- Ah, tá.

Fiz.

Ela tirou um punhado de cartas do topo dos dois bolos que se formaram, fez um leque e me ofereceu.

- Tire três.

Sem entender aquilo, retirei uma de cada ponta e uma do centro do leque. Em seguida, ela retirou uma carta do topo e uma do fundo de cada bolo, recolheu o baralho, depositou as quatro retiradas em cima da mesa, junto das outras três, e fez uma careta de decepção.

- O que diz? – apressei.

- Que não devo te dizer a verdade.

Nos encaramos.

- Use a sua bola de cristal.

- Essa bola de vidro não serve para nada, só uso para enganar quem pede o amor em três dias ou coisas do gênero.

Fiz um muxoxo, impaciente.

- Então, eu estou perdendo o meu tempo?

- Me desculpe, qual é o seu nome?

- Draco.

- Olha, Draco, eu quero te ajudar, de verdade, mas meus poderes são limitados, entenda isso. O que você sabe sobre o assassino?

- Ele desenhou uma estrela de sete pontas com o sangue de meu mestre na parede do templo.

- Tá, um septagrama. As cartas me deram uma pista e mandaram eu não revelar, mas eu vou desobedecer sob uma condição.

Franzi o cenho.

- Qual?

- Eu vou te dar a pista, você vai até ela e depois volta a mim.

- Por que voltar?

- Porque até lá, eu vou tentar descobrir mais sobre o assassino e poderei te ajudar de uma forma melhor – ela falou como se fosse um desabafo que não queria revelar.

- Por que se interessa tanto?

Ela piscou e contraiu o canto da boca novamente.

- Olhe essas duas cartas.

Numa, um cavaleiro de armadura branca em cima de um corcel, com uma espada e uma capa, numa planície com um sol brilhando ao fundo. Na outra, um cavaleiro de armadura negra com chifres, empunhando uma espada com um sol negro e um céu vermelho ao fundo. As duas eram até parecidas, na verdade.

- Está vendo? É o Herói e o Vilão. Draco, olhando para você e lendo a sua mão, eu vejo um herói, mas as cartas dizem que você é os dois.

- É impossível ser ambos.

- Lembra que eu falei que o seu caminho nunca foi trilhado? As cartas podem parecer confusas agora, mas algo inédito pode acontecer com você. Pode e vai, as cartas dizem isso.

Aquilo não parecia fazer sentido, mas Rosa falava com convicção.

- Essas duas são a Queda e a Ascensão. As duas podem acontecer. Meu medo é que o herói que está na minha frente caia e que outra coisa surja.

- Rosa, eu não sou um herói. Eu sou apenas um guerreiro que quer honrar o mestre.

Ela concordou com a cabeça, sem forças ou vontade de discutir mais. Talvez, não quisesse revelar mais do que já havia sido revelado.

- Promete que vai voltar?

Pensei por um instante. Pensei sobre tudo que ouvira. Sobre caminho nunca trilhado. O assassino. Meu mestre. Herói. Vilão. Queda. Ascensão. Sobre mim mesmo. Eu precisava das informações. Eu precisava honrar meu mestre. Percebi que só havia uma coisa a se fazer e, então, eu respondi:

- Não.

Seus lábios se descolaram e um pequeno risco se abriu em sua boca miúda.

- Não posso te prometer isto, Rosa.

Ela balançou a cabeça negativamente.

- O que fará, então?

- Se a resposta está em mim, irei encontrá-la. Ouvi falar de um monge que prega o autoconhecimento, verei o que ele tem para me ensinar.

- É uma boa idéia. Pena que eu não possa te ajudar mais.

- Não se preocupe com isso.

- Boa sorte.

- Não me deseje sorte, ela é escorregadia. Deseje-me força ou sucesso.

- Não sou adepta da força, mas lhe desejo sucesso.

- Obrigado.

Levantei-me e andei em direção à saída.

- Ei!

- O que foi?

- São cinqüenta peças de ouro pelo serviço – ela me lembrou, estendendo a mão.

- Desculpe, havia esquecido.

- Sei, sei. Volte sempre, Draco. E não se torne um vilão.

- Não me tornarei – eu disse.

Mas pensei “apenas se for necessário”.